
Miley Cyrus surpreendeu fãs e críticos com o lançamento de Something Beautiful, seu quarto álbum de estúdio, que já chega às plataformas digitais carregado de expectativas e simbolismos. A obra não apenas consolida uma fase artística madura da cantora, como também inaugura um novo capítulo em sua trajetória, explorando a complexidade emocional emoldurada por uma estética de ópera rock.
A consagração de Cyrus em 2024, após conquistar seu primeiro Grammy e dominar as paradas com “Flowers”, foi o prenúncio de que a artista estava pronta para dar um o adiante. Something Beautiful não decepciona: é denso, sensível e ambicioso, tanto em som quanto em imagem. O disco representa um manifesto criativo que, segundo a própria artista em entrevista à Apple Music, nasce da liberdade de fazer algo que a representasse plenamente.
Uma produção meticulosa e cheia de camadas
Desde o primeiro acorde, Something Beautiful deixa claro que não se trata de um trabalho comum. A produção é sofisticada e detalhista, marcando uma evolução evidente no repertório de Cyrus. Canções como a faixa-título e “Easy Lover” transitam com fluidez entre o pop e o alternativo, evocando a nostalgia dos anos 1990 sem perder o frescor contemporâneo.
Cada faixa é uma construção sonora cuidadosa, pensada para ser ouvida com atenção — de preferência com fones de ouvido — onde as nuances se revelam em camadas: vocais sutilmente modulados, instrumentais atmosféricos e letras que oscilam entre confissão e ficção.
Entre a dor e o brilho: o poder da vulnerabilidade
Em Something Beautiful, Cyrus parece encontrar conforto ao se mostrar vulnerável. Em “More to Lose”, composição inspirada por uma conversa com sua madrinha Dolly Parton, a artista descarta a busca por hits fáceis para mergulhar em uma narrativa mais introspectiva e poética. Já em “Golden Burning Sun”, entrega uma das faixas mais radiantes e emocionais do disco — uma ode ao amor que, apesar de sua simplicidade aparente, carrega camadas de complexidade afetiva.
Uma experiência cinematográfica
Mais do que um álbum, Something Beautiful é uma obra audiovisual. Em junho, o projeto será exibido no Festival de Tribeca, em Nova York, como um filme que amplia a experiência musical por meio de imagens cuidadosamente produzidas. A sessão contará com a presença da cantora, que conversará com o público sobre o processo criativo por trás da obra.
O visual é propositalmente minimalista, mas cheio de simbolismos, e reforça o poder estético do projeto. Com direção de arte minuciosa, o longa apresenta cenas marcantes que dialogam com a narrativa das músicas, reforçando a imersão do público em um universo próprio.
Parcerias de peso: de Brittany Howard a Naomi Campbell
As colaborações presentes no disco aparecem com precisão cirúrgica, em sua reta final. Brittany Howard empresta seus vocais à faixa “Walk of Fame”, uma composição longa e intensa que transforma a pista de dança em espaço de reflexão existencial. Logo depois, Naomi Campbell surpreende ao abrir “Every Girl You’ve Ever Loved” com sua voz imponente — uma escolha inusitada, mas certeira. Juntas, as duas faixas trazem à tona o contraste entre desejo, fama e identidade.
A moda como narrativa
O figurino também é protagonista em Something Beautiful. Com curadoria do stylist Bradley Kenneth, Miley Cyrus revisita peças históricas da grife Mugler, em especial da coleção “Les Insects” de 1997. A artista tornou-se a detentora do maior envio de acervo da marca a um único projeto artístico, reforçando a interseção entre moda e música como pilares centrais de sua proposta visual.
Os looks não apenas vestem Cyrus, mas contam histórias — teatralidade, transformação e sensualidade são costurados como temas visuais do álbum.
Um novo marco na carreira
Something Beautiful marca a fase mais ousada de Miley Cyrus até agora — não apenas pelo conteúdo musical, mas pelo modo como ela articula som, imagem e conceito em uma narrativa coesa e envolvente. É um projeto que exige do ouvinte atenção e entrega, mas que, em troca, oferece uma das experiências mais ricas da música pop contemporânea.