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Tecnologia impulsiona avanço da mineração 4.0; entenda

Setor minerador aposta na tecnologia como aliada para a transição para a mineração 4.0, mas ainda tem uma legislação que precisa de atualizações, de acordo com especialistas. Desafios serão debatidos em evento do Correio no próximo dia 10

Minério de ferro – US$ 42,2 bilhões - É o produto mais valioso da balança comercial brasileira, com grandes clientes como China e Japão.
 -  (crédito: Bishnu Sarangi/Pixabay)
Minério de ferro – US$ 42,2 bilhões - É o produto mais valioso da balança comercial brasileira, com grandes clientes como China e Japão. - (crédito: Bishnu Sarangi/Pixabay)

O setor minerador brasileiro atravessa uma profunda transformação, impulsionada por tecnologias, como automação, inteligência artificial (IA) e sistemas de monitoramento em tempo real. O movimento, conhecido como mineração 4.0, redefine não apenas as práticas operacionais, mas também a forma como o país enfrenta desafios históricos de segurança e sustentabilidade.

A modernização do setor a pela reestruturação da Agência Nacional de Mineração (ANM), destacou o Ministério de Minas e Energia (MME), em nota, ao Correio. Citando iniciativas como o projeto Destrava Brasil, a digitalização de processos e automação, "o uso de inteligência artificial e a criação de plataformas integradas conferem maior agilidade, precisão e transparência à atuação da agência".

Para o MME, essa transformação tecnológica está alinhada à transição energética global, na qual o Brasil busca se posicionar como protagonista.  “Os minerais são estratégicos para novas tecnologias voltadas à descarbonização da economia, como baterias, turbinas eólicas, paineis solares e motores elétricos”, frisou a pasta.

A automação de máquinas e o monitoramento preditivo reduzem a exposição humana a ambientes instáveis, prevenindo acidentes e melhorando o monitoramento em tempo real, informou a Agência Nacional de Mineração (ANM), em nota ao Correio. O órgão desenvolve o Sistema de Monitoramento de Alertas (SMA), plataforma que integra dados geotécnicos e sensoriamento remoto, permitindo que técnicos analisem rapidamente as condições de segurança das barragens.

Desafios

Apesar dos avanços, o Brasil enfrenta desafios significativos. Entre eles, a heterogeneidade tecnológica — enquanto grandes mineradoras adotam soluções de ponta, pequenas e médias empresas ainda operam com processos analógicos — e a falta de profissionais especializados em IA e automação. Eduardo Couto, presidente da Comissão de Mineração da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Nacional, destacou que o avanço tecnológico coloca a mineração brasileira diante de um vácuo regulatório.

"A mineração 4.0 representa a convergência de tecnologias digitais com os processos minerários tradicionais, buscando ganhos de eficiência, controle e previsibilidade. Contudo, a incorporação de sistemas autônomos, algoritmos de decisão e ferramentas de monitoramento inteligente ainda não foi adotada no arcabouço regulatório, que permanece ancorado em paradigmas analógicos", disse Couto.

O especialista ressaltou que o Código de Mineração, de 1967, carece de dispositivos para regular a automação, a robótica e a IA como ferramentas autônomas. Além disso, questões como a responsabilidade por falhas de sistemas automatizados ainda não possuem definição legal no Brasil. "A mineração inteligente requer não apenas inovação técnica, mas também atualização normativa."

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Marcelo Senise, presidente do Instituto Brasileiro de Regulamentação da Inteligência Artificial (IRIA), lembrou que a IA inaugura uma nova era na mineração: "Decisões críticas deixam de depender apenas da experiência humana e am a ser orientadas por dados em tempo real, cruzados por modelos preditivos capazes de antecipar falhas, otimizar rotas, ajustar a produção à demanda e maximizar o aproveitamento de recursos naturais".

Segundo ele, essa inteligência operacional permite operações com menos paradas e redução de custos com manutenção, energia e logística.  “Ao automatizar processos e integrar sistemas autônomos — de caminhões a centrais de despacho —, a mineração se torna mais produtiva, resiliente e segura”, afirmou Senise.

 

postado em 04/06/2025 03:59
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