Trabalho temporário cresce 5% entre abril e junho de 2025, mostra pesquisa
Levantamento da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) aponta projeção de 800 mil contratações no primeiro trimestre deste ano. Vagas são para cobrir demandas transitórias, especialmente datas sazonais, como Dia das Mães e Dia dos Namorados
postado em 01/06/2025 06:00 / atualizado em 01/06/2025 06:00
Naiara, 35, se encontrou no setor da agropecuária - (crédito: arquivo pessoal)
O Brasil segue gerando oportunidades por meio do trabalho temporário. Estimativa da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) mostra uma projeção de 800 mil contratações no primeiro trimestre de 2025, vagas abertas para cobrir demandas transitórias, especialmente datas sazonais como Dia das Mães e Dia dos Namorados ou afastamento de profissionais. Somente entre abril e junho são 630 mil contratos temporários que devem ser firmados, um aumento de 5% em relação ao mesmo período de 2024.
De acordo com a associação, o crescimento desse modelo de trabalho é impulsionado por setores, como agronegócio, logística, e-comércio, indústrias têxtil, de embelagem, papel e celulose, que mantém o ritmo de produção e seguem contratando trabalhadores temporários. O presidente da Asserttem, Alexandre Leite Lopes, disse que o trabalho temporário se mostra uma ferramenta valiosa das empresas para se adequar a momentos de instabilidade de mercado: “É uma oportunidade para flexibilizar a força de trabalho das empresas. E que garante ao empregado direitos associados à CLT: salário, FGTS, férias, 13º, contribuição previdenciária. É um trabalho completamente formal”, esclarece.
Alexandre explica que os empregadores recorrem ao modelo em períodos de incerteza, quando não sabem se o aumento de demanda se configura como crescimento efetivo da empresa ou apenas uma necessidade pontual. O presidente conta que a força do trabalho temporário é observada de forma sazonal:
“Nós vimos isso na pandemia, quando teve um crescimento muito grande dos trabalhadores temporários. Que foram tanto para substituir as pessoas doentes, que estavam afastadas, quando precisavam de alguém para fazer o trabalho ou para atender o aumento da demanda de serviço que aconteceu no período”
CLT
Maurício da Cunha, advogado trabalhista:
(foto: Divulgação)
O advogado trabalhista Maurício Sampaio da Cunha explica que a modalidade de trabalho temporário deve ser negociada por meio de uma empresa terceirizada, que garante legalmente que o modelo não substitua a CLT: “O trabalho temporário tem uma característica de ter um limite máximo de tempo. Geralmente, os contratos são de até 180 dias, sendo possível uma prorrogação por mais de 90 dias. E caso a empresa, após esse tempo, necessite novamente desse mesmo funcionário, ela tem que esperar um prazo de 90 dias para que o contrate dessa mesma forma”.
A contratação por meio de empresa de trabalho temporário permite mais rapidez contratual, contribuindo com as necessidades dos contratantes e dos funcionários, Maurício explica que o modelo traz benefícios para os trabalhadores que buscam um trabalho mais flexível: “Têm diferentes oportunidades, diferentes experiências. O o do mercado de trabalho mais rápido, você não precisa ficar ando por diversas entrevistas de emprego, porque a própria empresa de trabalho temporário remete ao cargo de que o tomador precisa. E dependendo se o contratado trabalhar bem, ele pode ser contratado diretamente pela empresa em que ele prestou serviço.”
Função Social
Naiara Alves trabalha como terceirizada em empresa agropecuária de Formosa (GO)
(foto: Arquivo Pessoal)
Naiara Alves Pinto, 35 anos, trabalha como operador de beneficiamento em uma empresa do setor da agropecuária. É a segunda vez que é contratada por meio do regime de trabalho temporário. A trabalhadora, que mora em Formosa (GO), uma cidade majoritariamente agrícola, conta que muitos dos moradores da região encontram dignidade no regime temporário: “Tem ônibus, tem alimentação, tem chance de crescimento também. Isso é muito bacana, ainda mais para quem está sem trabalhar. E o salariozinho não é tão ruim”
Naiara explica que o modelo permite um estilo de vida mais flexível e que, quando saiu de seu primeiro emprego temporário, ou um tempo empregada em Brasília, mas quando voltou para Formosa, decidiu ar a Employer, uma empresa de serviços temporários credenciada pelo governo federal. Ela confirma que, por meio desse regime, consegue salário e benefícios. Mas ite que seu objetivo continua sendo obter o contrato regido pela CLT: “Eu vou lutar por isso, porque eu tenho garra, sou muito esforçada, sou boa para trabalhar em equipe e nunca faltei serviço na vida”, resume.
Inclusão Social
Alexandre Lopes, da Asserttem:
(foto: Divulgação)
O presidente da Asserttem mostra ainda que o trabalho temporário vem se consolidando como ferramenta estratégica de inclusão social. Segundo Alexandre Leite Lopes, os trabalhadores têm o aos direitos garantidos por lei e reinserção no mercado, além de ampliar as oportunidades no mercado formal, sobretudo para jovens em busca do primeiro emprego, mulheres — inclusive gestantes. O presidente da empresa Employer, Marcelo Fernandes de Abreu e Silva, afirma que o modelo temporário é inclusivo por natureza: “As empresas, quando contratam trabalhadores temporários, normalmente, contratam pessoas sem experiência naquela área”.
Marcelo de Abreu e Silva, da Employer: "Está vencendo a barreira da diversidade"
(foto: Divulgação)
Marcelo explica que os trabalhadores, na maioria das vezes, am pelo on the job training, ou treinamento por meio do trabalho. De acordo com o presidente da Employer, 90% das áreas atendidas pela empresa não precisam de treinamento prévio. Entretanto, as grandes empregadoras, que usufruem do serviço temporário para remediar uma demanda transitória, costumam levar em conta a experiência do candidato quando vão a carteira de trabalho, fazendo com que os temporários levem a vantagem no processo seletivo: “Então, quando a empresa confirmar que essa demanda vai continuar, esse trabalhador vira um efetivo”, explica.
Outra vantagem apontada por analistas da área é que o regime temporário tem se tornado cada vez mais igualitário na questão de gênero. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados(Caged) revelam que, em 2024, as contratações de mulheres via trabalho temporário alcançaram 50% do total de contratos firmados: “Dentro das empresas, às vezes, têm mais empregos para homens do que para as mulheres. Não vou dizer que são todas as empresas, mas ainda acontece. Então, essa estatística mostra que o trabalho temporário está vencendo a barreira da diversidade”, comenta Marcelo.
Preconceito
Apesar de já existir há mais de 50 anos, o trabalho temporário ainda é vítima de preconceito da sociedade, onde muitas vezes enxergam a modalidade insegura para o trabalhador. Quando questionado sobre o preconceito em relação ao modelo, o presidente da Asserttem retruca: “Eu acredito que seja tudo em virtude do desconhecimento, porque quando a gente apresenta como efetivamente é o trabalho temporário para qualquer um, até para um presidente de sindicato, por exemplo, que às vezes pode ser mais resistente, eles tomam conhecimento efetivamente do que é o trabalho temporário, e o preconceito acaba”.
O presidente da Employer também explica que a categoria vem sendo mais aceita no âmbito governamental, por ajudar a combater o trabalho informal: “Ela formaliza um processo que, no ado, simplesmente colocariam uma pessoa para trabalhar lá por um tempo, até sem registro. Mas as empresas de trabalho temporário formalizam o emprego, dando todos os benefícios que o trabalhador merece: férias, 10º terceiro, FGTS. O modelo é bem visto pelo Ministério do Trabalho”, resume.
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