ARTIGO

O Cidadania, inteligência artificial (IA), Janja e as redes sociais

A regulação do uso da inteligência artificial (IA) no Brasil deve ser feita com seriedade, com participação plural, sem dogmas ideológicos e sempre em defesa da democracia

Inteligência artificial. Robô. Máquina. Aprendizado -  (crédito: Imagem gerada pelo Gemini)
Inteligência artificial. Robô. Máquina. Aprendizado - (crédito: Imagem gerada pelo Gemini)

COMTE BITTENCOURT, presidente do partido Cidadania e ex-deputado federal

Em 2025, o partido Cidadania deu um o ousado e simbólico: tornou-se o primeiro partido político brasileiro a utilizar recursos de inteligência artificial (IA) na produção de uma propaganda partidária exibida no horário gratuito de rádio e televisão. A repercussão foi imediata. De um lado, aplausos; de outro, críticas severas. Mas o que se pretendeu, acima de tudo, foi provocar um debate necessário: o Brasil precisa discutir urgentemente a regulação do uso da IA e das redes sociais na política e na vida pública.

É fundamental deixar claro — e o Cidadania faz questão de enfatizar — que o que se defende aqui é regulação, e não censura. Há uma diferença profunda entre essas duas ideias. Regulação é estabelecer limites, regras claras e democráticas que organizem o uso de tecnologias de grande impacto na sociedade. Censura, por sua vez, é a tentativa de suprimir opiniões, calar vozes, restringir liberdades. E contra isso, o Cidadania sempre se posicionou de forma firme, desde a sua origem.

Essa posição não surge por conveniência. O Cidadania carrega em sua trajetória política e ideológica a marca do combate à censura e da defesa intransigente da democracia. Antigo Partido Popular Socialista (PPS), temos raízes na resistência à ditadura militar, nos movimentos sociais e sindicais das décadas de 1970 e 1980, e na luta pela redemocratização do Brasil. Em 2019, para sua identidade, tornando-se Cidadania 23 — um partido reformista, democrático e pluralista, comprometido com a justiça social, os direitos humanos e o progresso.

Ao longo dos anos, o Cidadania sempre esteve ao lado de pautas importantes para o país, inclusive quando momentaneamente impopulares. Esteve ao lado da Constituição de 1988, apoiou avanços civilizatórios, como o casamento igualitário, a liberdade religiosa, a sustentabilidade ambiental, o combate à violência contra a mulher e o respeito às instituições republicanas. Agora, mais uma vez, assume o protagonismo num tema incontornável do presente e do futuro: o impacto da inteligência artificial e das plataformas digitais na democracia.

A IA já está presente nas campanhas políticas — porém, ainda de forma velada. Se não na criação direta de conteúdo, certamente no uso de algoritmos e big data para analisar perfis, comportamentos e preferências do eleitorado, direcionando mensagens personalizadas e otimizando o alcance de conteúdos nas redes sociais. Esse processo, herdado do marketing comercial, já influencia o jogo político, as decisões eleitorais e a opinião pública de forma massiva.

É justamente por isso que a regulação se faz urgente: partidos com maior poder econômico têm hoje muito mais condições de explorar essas ferramentas, ampliando o abismo entre o conservadorismo e a renovação política. O que está em jogo é a igualdade de condições no processo democrático, a proteção de dados pessoais, o combate à desinformação e a defesa da soberania informacional do país.

Esse debate ganhou ainda mais força após as declarações da primeira-dama Janja da Silva durante missão oficial à China, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao tratar da necessidade de regulação das redes sociais, Janja expôs uma preocupação legítima: como proteger crianças, adolescentes e mesmo adultos da exposição contínua a conteúdos violentos, misóginos, sexualmente inadequados ou carregados de discurso de ódio?

A proposta, endossada por Lula, reacende o debate no Brasil sobre o papel das plataformas digitais e a responsabilidade das grandes corporações tecnológicas diante da vida social, política e cultural do país. Não se trata de limitar a liberdade de expressão, mas de criar mecanismos que assegurem um ambiente digital saudável, ético, transparente e seguro.

O Cidadania entende que essa regulação deve ser feita com seriedade, com participação plural, sem dogmas ideológicos e sempre em defesa da democracia. Deve-se garantir que a liberdade de expressão conviva com o combate à desinformação, que a inovação tecnológica avance junto com a responsabilidade social, e que o debate público continue plural, respeitoso e fundamentado em fatos.

Como pioneiro no uso da IA em peça partidária, o Cidadania não quis apenas inovar. Quis fomentar esse debate. Quis colocar luz sobre um tema que está presente em nossas vidas, mas ainda caminha na escuridão do vácuo legislativo. Ao fazer isso, reafirma sua identidade: um partido que olha para o futuro, que acredita na ciência e na tecnologia como ferramentas de progresso, mas que nunca abre mão da ética, da justiça e da liberdade.

Regulação, sim; censura, nunca!

 

Por Opinião
postado em 03/06/2025 06:03
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